10 de setembro de 2020

Residência artística na Amazônia

©Rogério Assis | Amazônia

A inspiração vem do ar que você respira

Como arte e natureza devem coexistir para o bem do planeta

A natureza é uma potência viva e em constante transformação, mas que normalmente é vista como um cenário estático, um objeto inerte para mera contemplação. Às vezes ela grita e inúmeras vezes é sobrevivente do caos criado pelos seres humanos, que se esquecem que são parte integrante (e quase ínfima) deste todo.

A floresta amazônica, que sabemos ser de importância fundamental para o equilíbrio ambiental de todo o planeta, é quem acolhe, a cada ano, artistas, cientistas e especialistas em ecologia, em uma residência artística promovida desde 2013 pelo projeto Lab Verde, em parceria com o coletivo Manifesta Arte e Cultura e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Rogério Assis Torre | Amazônia

O objetivo principal é realizar uma imersão profunda entre os participantes – brasileiros e estrangeiros – durante o período de 10 dias para provocar a discussão e criação de conteúdos culturais sobre o meio-ambiente, gerados a partir dessa experiência. 

É fazer a intersecção entre arte, natureza e ciência, resultando na difusão de conhecimento, consciência e manifestação artística sobre como vivemos o planeta hoje e quais as perspectivas de futuro.

As relações são simbióticas e infinitas. Só o cosmos consegue dar conta dessa potência que é a ecologia. Quando nos integramos à ecologia, nos conectamos com o cosmos. Existe uma conexão que te faz entender as atmosferas” diz Lilian Fraiji, idealizadora e curadora do projeto.

Peixes na Amazônia | Rodrigo Braga

Para ela, essa mudança de como estamos transformando a natureza é urgente, paradigmática. 

Nós somos natureza. Não podemos manipulá-la, dominá-la, pois somos uma partícula integrante deste organismo Terra. Nossa pequenez, contudo, causa catástrofes que ameaçam a nossa existência e a de toda vida que coabita este planeta”.

É preciso que a humanidade entenda que natureza não se domina, mas se coabita. Muitas vezes a lição é ela mesma quem dá, com os seus furacões, vulcões, tempestade, enchentes e tsunamis. 

O ser humano precisa urgentemente ouvir e aprender com essas transmutações naturais e começar a fazer parte desse todo, ao invés de tentar controlar. É justamente por isso que projetos desse tipo são fundamentais como estratégia de repensar a existência humana no planeta.

A Terra tem seu próprio ritmo, seus ciclos, suas oscilações e está há anos nos mostrando suas dinâmicas. Quando se coloca a arte como escuta desses processos o surgimento de caminhos viáveis se torna mais fluido.

A manifestação artística é essencialmente reflexiva, provocativa e parte de um olhar sensível, muitas vezes intuitivo e menos racional. 

Quando o ser humano se conecta com sua essência primitiva e toma a consciência enquanto ser vivo, é quando ele consegue enxergar que é uma pequena parte de um todo muito maior e mais potente. É nesse encontro que nascem possibilidades.

Juliana Curvellano e Fabian Albertini
©Rogério Assis | Amazônia

A criação acontece, literalmente, de maneira natural, quando se permite essa conexão com tudo o que compõe o meio-ambiente, desde os micro aos macro organismos. 

Assim como essa residência, existem muitas outras que sempre buscam colocar o artista imerso em um ambiente longe do cenário urbano, de modo que o nascimento de novas visões e ideias prosperem. 

E dessa forma, possam ser traduzidas e transmitidas para que mais e mais pessoas reflitam o seu entorno e respirem com consciência: uma prática que salva a nossa vida e a do planeta.

FONTE:

HAROUTIOUNIAN, Cassiana Der. Residência artística na Amazônia: a cultura como uma estratégia urgente para coexistir com o meio ambiente

Folha de S.PauloSão Paulo, 20 de jan. de 2020.