Fotos que contam a história das epidemias desde o começo do século XX
O ser humano muitas vezes se esquece do quanto a natureza é potente e o quanto é ela quem comanda o planeta.
Pois o ano de 2020 vem provar isso mais uma vez e entra para a história com a pandemia do novo Coronavírus, que literalmente fez o mundo parar e refletir sobre o presente e o futuro.
No entanto, no passado, outros fatos históricos ocorridos – guerras, ataques nucleares e outras calamidades – que ocasionaram muitas mortes e destruição, forçaram o mundo a se reinventar.
Mas para além desses fatos, tem àqueles ligados aos agentes patogênicos invisíveis, que desde os anos antes de Cristo vem provando que causam vítimas com igual eficiência.
Nos anais do conflito, datados da Peste de Atenas de 430 a 426 a.C. durante a Guerra do Peloponeso, as doenças moldaram os destinos nacionais tanto quanto os exércitos concorrentes.
Os medos da última pandemia estão profundamente enraizados na história. A praga na Europa medieval assolou milhões de vidas, devastando populações nacionais e continentais em quantidades espantosas em meados do século XIV.
Ao longo de milênios, a cólera, varíola, tifo e outras doenças mudaram o curso da história e reforçaram as percepções humanas de fragilidade.
O catálogo abrange a gripe suína e a gripe aviária, a lepra, o sarampo, a malária e no caso do Brasil, a dengue e a febre amarela.
Inevitavelmente, esta atual pandemia encontra ecos no passado e vamos fazer uma retrospectiva desses momentos:
1918-1919 A GRIPE ESPANHOLA
A palavra pandemia deriva do grego antigo, que significa literalmente “todas as pessoas”, mas não se aplica universalmente.
A gripe espanhola, também conhecida como gripe de 1918, foi uma pandemia do vírus influenza incomumente mortal.
De janeiro de 1918 a dezembro de 1920, infectou 500 milhões de pessoas, cerca de 1/4 da população mundial na época.
As estimativas apontam que a gripe matou mais de 50 milhões de pessoas, mais do que as que morreram na 1ª Guerra Mundial, de onde a doença germinou. Relatos dão conta que as pessoas acordavam bem de saúde e morriam ao final do dia.
No Brasil, a gripe espanhola matou cerca de 35 mil pessoas – dentre elas o presidente da república Rodrigues Alves, que tinha acabado de ser reeleito e morreu antes de tomar posse. E o Rio de Janeiro, a capital do país na época, parou completamente.
1968 A GRIPE DE HONG KONG
Transmitida por aves, principalmente aquelas que viviam soltas em mínimas condições de higiene, essa gripe provocava febre alta, cansaço e dor nas articulações.
Com uma progressão rápida e avassaladora, estima-se que matou por volta de 1 milhão de pessoas, sobretudo em Hong Kong, origem da pandemia, e nos Estados Unidos, onde quase 100 mil pessoas sucumbiram a ela.
Quando o presidente Donald Trump se referiu ao “vírus chinês”, apelando à xenofobia, algumas pessoas recordaram uma imagem de 1968 durante a chamada gripe de Hong Kong.
A fotografia mostrava um cartaz com as palavras: “A Gripe de Hong Kong é anti-americana. Pegue algo feito nos EUA”.
AIDS
Essa deve ser a infecção viral mais persistentes dos últimos tempos modernos e suas primeiras associações com a homossexualidade levaram à marginalização das vítimas e ao tratamento.
A doença em si provou ser menos discriminatória do que as sociedades que ela afligia, tornando-se generalizada.
No entanto, mesmo que em tempos tenha sido definida como uma pandemia, agora é muitas vezes descrita como uma condição crônica ou endêmica, embora de proporções epidêmicas.
No final de 2018, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, 32 milhões de pessoas haviam morrido de H.I.V. desde o seu início, no final dos anos 60, e 37,9 milhões de pessoas viviam com a doença como resultado dos avanços no tratamento e na assistência.
2002-2003 SARS
A doença foi encarada como a primeira transmissível grave do século XXI e pertence a “uma grande família de vírus que podem causar doenças em animais ou seres humanos”, chamados Coronavírus, segundo a Organização Mundial de Saúde.
Eles variam “do resfriado comum a doenças mais graves como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS)”.
Mas essas epidemias tinham um alcance muito mais limitado do que a doença Covid-19 causada pelo último Coronavírus.
Em 2003 causou quase 800 mortes de 8.000 casos notificados, principalmente na China Continental, Hong Kong, Taiwan e Singapura.
2009-2010 GRIPE SUÍNA
A pandemia mais recente que o mundo viu foi causada pelo vírus H1N1, conhecida como gripe suína, em 2009.
Na categoria da gripe espanhola, o vírus infectou centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, sem excluir os jovens e saudáveis.
Acredita-se que o vírus veio do porco e o primeiro caso registrado foi no México.
Estudos estimam hoje que de 11% a 24% da população global na época — entre 700 milhões e 1,7 bilhão de pessoas — tenha contraído o vírus.
A OMS declarou que mais de 200 mil pessoas morreram por causa da gripe suína.
2013 EBOLA
O surto de Ebola, que surgiu em dezembro de 2013 na Guiné, varreu partes da África Ocidental entre 2014 e 2016, matando mais de 11 mil pessoas, segundo a Organização Mundial de Saúde.
É referido por especialistas apenas como uma epidemia, mesmo que tenha atravessado as fronteiras entre a Guiné, a Libéria e a Serra Leoa.
O Ebola mostrou que, para a Europa e os Estados Unidos, que possuem um sentido de prosperidade e legitimidade, grande parte da África permaneceu remota.
O surto não acabou com as vidas ocidentais. Não fechou teatros e bares de Los Angeles a Roma, nem parou os voos através do Atlântico, nem fechou empresas, metrôs e escolas, nem deixou muitos americanos e europeus subitamente conscientes da sua fragilidade e vulnerabilidade à mudança das regras de mortalidade.
Isso não levou à conclusão de que, dali para frente, as expectativas do que constitui a normalidade ocidental se aplicariam por mais tempo.
2015 MERS
Até agora, nenhuma região se mostrou imune à penetração da doença, à sua terrível persistência ou ao potencial de se tornar a fonte de pandemias, apesar da tentação de atribuir culpas, como no caso do contágio pela Covid-19.
Por exemplo, a MERS matou cerca de 858 vidas de 2.494 infectados, principalmente em 2012, e principalmente na Península Arábica, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
O surto voltou a ocorrer na Coreia do Sul, três anos mais tarde. Desta vez, um Coronavírus tornou-se global, em quase todos os lugares ao mesmo tempo. “Nunca tínhamos visto uma pandemia desencadeada por um Coronavírus”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, sobre o Covid-19, em 11 de março de 2020.
“E nunca antes vimos uma pandemia que possa ser controlada, ao mesmo tempo”, acrescentou ele.
CORONAVÍRUS
A Covid-19, então, apresenta uma nova ameaça à globalização, desafiando a humanidade a se unir ou a se separar.
Os alarmes e os lockdowns sobre o Coronavírus inverteram as percepções do Ocidente sobre o seu próprio lugar na história.
Reclamando o manto de um líder que poderia ter sido da América, a China está agora oferecendo ajuda às terras europeias, incluindo a Polônia e a Itália.
Depois de décadas de desmantelamento das barreiras entre eles, as nações europeias estão a reconstruí-las, retirando-se para a soberania nacional.
Por toda a Europa, que outrora valorizou a livre circulação, as fronteiras estão sendo restabelecidas. No entanto, como Ian Goldin, professor da Universidade de Oxford, observou num artigo do Op-Ed no The New York Times, esses esforços podem ser apenas a nossa mais recente vaidade.
“Nenhum muro é alto o suficiente para manter afastadas as ameaças ao nosso futuro”, escreveu ele, “mesmo para os países mais poderosos”.
Fonte:
COWEL, Alan. Photos form a Century of Epidemies – New York Times