17 de junho de 2020
Preservar a nossa história é proteger o nosso futuro!
Pela preservação da história das pessoas LGBTQIA+
Ao longo dos anos e até hoje em dia a história das pessoas queer (termo guarda-chuva que engloba a sigla LGBTQIA+ e outas minorias) é frequentemente apagada de livros didáticos e a sua arte é frequentemente censurada por uma sociedade patriarcal e heteronormativa.
No entanto, a resistência atravessa os tempos, e pouco a pouco vai conquistando seu espaço, para que a comunidade ganhe cada vez mais visibilidade. Para que possam ter voz e contar a sua própria história.
Considerando o quanto as pessoas queer vêm sido perseguidas como minoria há séculos, ter um lugar para abrigar arte e arquivos é imprescindível.
A legitimidade é parte da luta política, seja pela conquista de leis igualitárias ou pelo direito de ser lembrado como uma fatia do quadro maior.
Preservar a história de todas as pessoas que compõe nossa sociedade plural e diversa é de fundamental importância.
Por isso, a existência de museus queer pelo mundo merecem toda atenção. São organizações e instituições que estão arquivando a histórias da comunidade, para que possamos refletir continuamente sobre nosso passado nesses tempos contemporâneos, e ainda preservar um material rico para gerações futuras.
Esses museus trazem à sociedade um reconhecimento de que a existência das pessoas queer e suas demandas merecem ser conhecidas, compreendidas, estudadas e colocadas na narrativa histórica maior.
E é por isso que reunimos alguns desses espaços essenciais, localizados em várias partes do globo:
ALEMANHA
Schwules Museum | Berlin
O Museu Schwules é uma vibrante e gay Meca da arte e da história queer. O museu não tem medo de correr riscos quando se trata de exposições e arte potencialmente polêmicas, tornando a experiência do museu tão provocadora de pensamento quanto de entretenimento.
Acesse o Schwules Museum
Denkmal für die im Nationalsozialismus verfolgten Homosexuellen | Berlin
Trata-se de um monumento para um gigantesco grupo de pessoas com um propósito especial: traduz-se como “memorial para os homossexuais perseguidos sob o Nacional-socialismo“, também conhecido como nazismo.
Os LGBT foram especificamente visados pelo Holocausto, e este memorial, inaugurado em 2008, é diretamente oposto ao famoso Memorial do Holocausto em Berlim.
É uma experiência memorável: criado pelos artistas Michael Elmgreen e Ingar Dragset, é um cubo de concreto gigante com uma pequena janela, através da qual os observadores podem assistir a um vídeo de dois homens ou mulheres beijando, dependendo do ano.
Também é cercado por placas descrevendo as condições particulares de perseguição aos LGBT na Alemanha nazista, incluindo o fato de que eles não eram particularmente reconhecidos como vítimas até os anos 80.
Museu do Holocausto
Memorial para os homossexuais perseguidos pelo nazismo.
AUSTRÁLIA
The Australian Lesbian and Gay Archives | Melbourne
O Australian Lesbian and Gay Archives foi fundado em 1978, e conta com um robusto arquivo e biblioteca comunitária baseada em voluntários.
A instituição sediada em Melbourne abriga mais de 150 mil itens relacionados à vida histórica LGBTQ, remontando aos primeiros colonos do país até os dias de hoje.
O arquivo hospeda conferências acadêmicas, publica livros e organiza passeios e caminhadas históricas, além de exposições em galerias parceiras pela Austrália, e participa de grandes eventos anuais LGBTQ como o Sydney Gay & Lesbian Mardi Gras e o festival Midsumma de janeiro.
BRASIL
Museu da Diversidade Sexual | São Paulo
Criado em em 2012 pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, o intuito do museu é difundir a cultura da população LGBT+ no Brasil.
O espaço abriga exposições temporárias sobre os mais variados temas relacionados ao universo de pessoas transgêneras, gays, lésbicas, bissexuais e com todas as configurações possíveis de gênero, além de atividades culturais e educativas.
CANADÁ
Canadian Lesbian and Gay Archives | Toronto
Reúne registros históricos LGBT, artigos pessoais, publicações, arte, fotografias, cartazes e artefatos. O CLGA também apresenta exposições de arte em todo o arquivo e na galeria.
The Pride Library in London | Ontário
Reúne uma coleção de periódicos, livros e recursos audiovisuais hospedados na Biblioteca D.B. Weldon da Universidade de Western Ontario.
Há mais de 6.000 itens no acervo em mais de 15 idiomas, desde romances populares a documentários e arte.
Transgender Archives at the University of Victoria | Victoria
Possui o arquivo mais completo do mundo de publicações transgênero. A Universidade de Victoria mantém registros de ativismo trans e arte que remontam há mais de um século, com a contribuição de pessoas não-binárias e não-espirituais de gênero e apoiadores de quase duas dezenas de países.
Localizado dentro da serena biblioteca do campus, o Arquivo Transgênero também serve como sala de aula, área de pesquisa, cofre de arquivos e espaço de exposição que hospeda uma variedade de palestras, eventos comunitários e apresentações.
ESTADOS UNIDOS
The GLBT historical society | São Francisco
Este galeria fundada em 1985 e localizada em São Francisco (EUA), coleta, preserva, expõe e torna acessível ao público materiais e conhecimentos para apoiar e promover a compreensão da história, cultura e artes LGBTQ em toda a sua diversidade.
Trata-se de uma organização educacional sem fins lucrativos e são reconhecidos internacionalmente como um líder no campo da história pública LGBTQ.
Acesse o The GLBT historical society
Leslie-Lohman Museum of Gay and Lesbian Art | Nova York
Primeiro museu do mundo dedicado à arte LGBTQ, o Museu Leslie+Lohman foi fundado como uma organização sem fins lucrativos em 1987 por Charles Leslie e Fritz Lohman, que coletaram trabalhos de artistas LGBTQ durante décadas.
Sua coleção permanente inclui trabalhos de Catherine Opie, Robert Mapplethorpe e Andy Warhol. Hoje o Museu possui uma coleção de mais de 24.000 obras, além de um arquivo que contém informações sobre quase 2.000 outros artistas LGBTQ, tornando-o um dos museus LGBT com a maior coleção de arte queer.
MOTHA – Museum of Trans History and Art | São Francisco
Em 2013, a MOTHA foi fundada como uma plataforma para compartilhar as vozes frequentemente sub representadas de artistas e historiadores trans, não-binários e de gênero não-conformes.
A empresa compartilha uma série de performances, painéis de discussão e exposições ao longo do ano, principalmente na área da Baía de São Francisco, mas funciona sem uma casa permanente.
O objetivo da MOTHA é se tornar uma instituição de tijolos e morros, onde artistas, historiadores e estudiosos possam mostrar seus trabalhos.
Se tudo correr como planejado, a MOTHA será o primeiro museu do mundo dedicado especificamente à comunidade transgênero.
Tucson Gay Lesbian Bisexual Transgender Queer Museum | Texas
Este museu no Texas guarda um importante acervo (inclusive online) sobre militantes LGBTQ nos Estados Unidos.
Acesse o Tucson Gay Lesbian Bisexual Transgender Queer Museum
World AIDS Museum, Fort Lauderdale | Flórida
O museu está localizado em um espaço multifuncional que, em 2013 foi dedicado por Earvin “Magic” Johnson (que foi diagnosticado com HIV 22 anos antes), e através de uma exposição abrangente explica a história da epidemia do HIV/AIDS.
A missão do museu é enfrentar o estigma associado à doença e incentivar jovens e indivíduos em situação de risco a fazer escolhas informadas sobre seu autocuidado.
Hoje, o museu abriga exposições de arte, seminários, painéis de discussão, leituras e muito mais, além de servir como centro educacional e ponto de encontro para grupos de apoio.
One Archive | Los Angeles
É uma bela ironia que o maior repositório de materiais LGBTQ da Terra – mais de dois milhões de itens – seja chamado de “UM”.
Mas UM Arquivo Nacional Gay & Lésbico defende a noção de que a preservação promove a conscientização pública, e tudo isso equivale ao singular esforço de compreensão.
Graças às Bibliotecas da Universidade do Sul da Califórnia, a ONE tem sido preservada em seu arquivo do West Adams Boulevard desde 2010.
Lá, pesquisadores e outros visitantes podem explorar tudo, desde periódicos, livros e filmes, até fotografia, gravações de áudio e trabalhos pessoais.
Stonewall National Museum & Archives, Fort Lauderdale, | Flórida
Parece uma cidade improvável para tal instituição, mas Fort Lauderdale é na verdade o lar de uma forte comunidade LGBTQ, bem como da International Gay & Lesbian Travel Association e do dinâmico Pride Center of Florida.
Entre as principais ofertas culturais da cidade está o Stonewall National Museum & Archive, que começou como uma biblioteca em 1984 pelo estudante Mark Silber, da Flórida do Sul.
Tomando seu nome dos tumultos de 1969 em Stonewall, na cidade de Nova York, o grupo cresceu constantemente, ganhou status de entidade sem fins lucrativos e acumulou mais de 30.000 obras de arte, história, discos e efêmeras.
A Stonewall’s Wilton Manors Museum Gallery recebe exposições rotativas ao longo do ano, juntamente com exibições de filmes, leituras, campanhas de arrecadação de fundos e outros eventos.
Lesbian Herstory Archives | Nova York
A história lésbica é muitas vezes ofuscada pelo termo guarda-chuva “orgulho gay”, que tende a focar a homossexualidade masculina.
Essa foi uma força motriz para o pequeno grupo de mulheres que fundaram o Arquivo de Herança Lésbica na década de 1970.
Elas trabalharam avidamente para coletar e preservar materiais multimídia, memorabilia e publicações especificamente sobre a cultura e história lésbica.
Os arquivos ocupam uma casa no bairro Park Slope, no Brooklyn, onde inúmeras prateleiras estão repletas de livros e gravações, e parece que cada centímetro quadrado é coberto por lembranças únicas do continuum maricas-feminino.
Os hóspedes e pesquisadores são recebidos lá com hora marcada ou durante o horário de funcionamento ou eventos mensais.
A LHA também compartilha seu acervo através de exposições itinerantes, e mantém uma coleção digital que é considerada o maior arquivo do mundo de materiais dedicados às lésbicas e suas comunidades.
Gerber/Hart Library and Archives | Chicago
Fundada em 1981 com base na crença de que o conhecimento é a chave para dissipar a homofobia e a marginalização das minorias sexuais e de gênero.
A Gerber/Hart coleta, preserva e torna acessíveis itens relacionados à história e cultura LGBTQ.
Aberto a todos, Gerber/Hart dedica-se a promover a pesquisa, aprendizado, exploração e descoberta em uma atmosfera segura.
Seu acervo conta com 22.500 volumes circulantes, 600 periódicos, 700 newsletters, 150 coleções de arquivos e quatro locais de exposição.
Acesse o Gerber/Hart Library and Archives
Leather Archives & Museum | Chicago
Abriga uma extensa biblioteca com doze mil livros e quatorze mil revistas, além de publicações acadêmicas, filmes e recursos eletrônicos sobre todas as orientações sexuais.
Quanto ao acervo do museu, está repleto de arte erótica original e artefatos de organizações e indivíduos do sexo alternativo. Os contêm trabalhos inéditos e registros de notáveis ativistas BDSM, artistas, empresas e organizações.
Acesse o Leather Archives & Museum
The National Gay and Lesbian Sports Hall of Fame | Chicago
O National Gay and Lesbian Sports Hall of Fame foi criado em 2013 logo após Jason Collins ter se tornado o primeiro jogador abertamente gay da NBA.
Sua missão é homenagear pessoas e organizações que “aprimoraram o esporte e o atletismo para a comunidade LGBTQ”, e preservar essa história para as gerações futuras.
Andy Warhol Museum | Pittsburgh
Deixando uma marca indelével na cultura queer assim como no mundo da arte, o museu de Andy Warhol é o maior museu dedicado a um único artista nos Estados Unidos.
Localizado na costa norte de Pittsburgh, Pensilvânia, onde Warhol cresceu, o museu possui uma extensa coleção permanente de arte e arquivos, incluindo 900 pinturas, cerca de 2.000 obras em papel, mais de 1.000 impressões únicas publicadas, 77 esculturas, 4.000 fotografias e mais de 4.350 filmes e vídeos de Warhol – uma visita obrigatória para qualquer fã de arte pop.
United States Holocaust Museum | Washington, D.C.
Os nazistas perseguiram os homossexuais como parte de sua cruzada para purificar racial e culturalmente a Alemanha.
Eles visavam os homossexuais como alvo de perseguição porque os viam como portadores de um “contágio” que enfraqueceu a sociedade e não contribuiu para o crescimento da população ariana.
O Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos ajuda a homenagear aqueles que perdemos, documentando parte dessa história.
O acervo do museu contém mais de 12.750 artefatos, 49 milhões de páginas de documentos de arquivo, 80.000 fotografias históricas, 200.000 sobreviventes registrados, 1.000 horas de filmagens de arquivo, 84.000 itens de biblioteca e 9.000 testemunhos de história oral.
The Chris Gonzalez Library & Archives | Indianapolis
A Biblioteca e Arquivos Chris Gonzalez está localizada no escritório do Orgulho de Indy, em Indianápolis.
Muitos dos materiais circulam e a biblioteca tem mais de 8.000 títulos individuais, além de publicações, vídeos, arte e fotos LGBT.
HOLANDA
IHLIA LGBT Heritage | Amsterdã
A Holanda tem sido historicamente LGBT inclusive, como evidenciado pela Coleção IHLIA LGBT Heritage Collection, que é a maior coleção de patrimônio LGBT da Europa.
Criado em 1999, o IHLIA tem documentado tudo isso. Algumas de suas coleções notáveis incluem o “Pink Cabinet” e “Pink Life Stories”, que organiza literatura, filmes e biografias LGBT para torná-los facilmente acessíveis dentro da biblioteca.
Fonte:
BAPTISTA, Jean & BOITA, Tony. Protagonismo LGBT e museologia social: uma abordagem afirmativa aplicada à identidade de gênero – Abril de 2014.
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