9 de agosto de 2019

Por que as fotografias de ROBERT MAPPLETHORPE ainda são subversivas nos dias de hoje?

 
 
 

Três décadas após a sua morte, o fotógrafo continua atual, despertando paixões e polêmicas.

 

Em 1989, o ano que sucumbiu à AIDS, a Corcoran Galeria de Arte em Whashington, D.C., cancelou uma exposição de Mapplethorpe na qual incluía fotografias de anal-fisting e crianças nuas.

Três décadas depois, o Guggenheim, em Nova York, celebra o legado do artista com a exposição Implicit Tensions: Mapplethorpe Now, que ocupa o museu até janeiro de 2020. Dividida em duas partes, a mostra faz um apanhado de sua trajetória em uma cidade que passou da liberdade das décadas de 60 e 70 para a destruição causada pela violência e pela Aids, o mal que devastou toda uma geração nos anos 80 e 90.

Há um momento “singelo” dentro da exposição no qual o novato fotografo e a musicista Patti Smith, sua amante e amiga de sempre, convenceram o gerente do Chelsea Hotel em Nova Iorque a dar a eles um quarto em troca de alguns desenhos, assegurando que “você pode não nos conhecer ainda, mas seremos grandes estrelas”. Isso foi em 1969.

 

 

Seis anos depois, ele fez a foto em que Patti Smith aparece em preto e branco, de cabelos cortados por ela mesma, camisa branca (limpa, segundo ela, comprada no Exército da Salvação) e suspensórios, segurando uma jaqueta no ombro, na qual, sem muito esforço, conseguimos enxergar um broche em forma de cavalinho prateado. A luz, capturada ao final da tarde, forma um triângulo, e o olhar de Patti, dirigido a Robert, é altivo, quase desafiador.

 

Essa imagem se tornaria capa do seu disco Horses e uma das imagens mais famosas do fotógrafo.

 

Antes da década terminar, ele completou o “X Portfolio” (1978), uma coleção de imagens de BDSM com temática gay, que o tornaria no mais controverso fotógrafo da América.

Mapplethorpe ingressou no mundo gay hardcore novaiorquino pelas mãos de Jack Fritscher, editor da revista Drummer, com quem teve um relacionamento. Fritscher o conduziu ao Mineshaft, o bar gay e sex club do Village onde o fotógrafo arranjaria seus modelos. Outro amigo o aconselhou a deixar de ser observador e passar à ação.

O resultado é tão sombrio que evoca as aventuras do pintor Caravaggio pelo chiaroscuro do submundo. Couro, correntes e chicotes comandam as cenas, em que há espaço até para uma graça. “Para mim, SM significa sexo e magia, e não sadomasoquismo”, disse o artista em certa ocasião. As cenas têm uma estranha aura de dignidade meditativa. Algo próximo da arte pura, se ela existisse.

 

             

 

 

De uma simples Polaroid, com a qual produziu mais de 1.500 imagens, ele partiu para uma sofisticada Hasselblad, a máquina que lhe abriria grandes possibilidades e o faria ingressar no jet set, graças aos retratos da alta- -sociedade que produziria em paralelo com outros temas mais ousados. Em tudo o que fazia, buscava excelência. Como ele mesmo dizia: “Procuro a perfeição na forma”.

E é disso que se trata a exposição: de foto em foto, acompanhamos essa inquietante busca de um artista que se reflete nos grandes clássicos, como se esculpisse ou pintasse com a luz e a sombra envolvendo seus modelos. O que choca, sempre, é a sensação quase pornográfica que algumas imagens de falos, de sadomasoquismo explícito e de corpos nus causa no espectador. Logo, porém, essa impressão se transforma em contemplação: estamos diante do belo, daquilo que é arte estranhamente verdadeira, preto no branco.

“Na seleção das obras da coleção, estudamos em profundidade diversos temas- -chave de Mapplethorpe. Ele tratava de cada assunto – das tulipas ao falo masculino – comum grau igual de habilidade de tirar o fôlego”, dizem as curadoras Lauren Hinkson e Susan Thompson. Flores e falos, nas fotografias desta exposição, parecem pertencer à mesma família estética.

 
 

Ele era, de alguma forma, um artista total, com uma diferença importante em relação aos estetas puros: seus trabalhos são provocadores para qualquer época. Já nos anos de 1980 sua vida não era fácil. Nem todos os museus tinham a audácia necessária para expor os seus temas profanos. Ainda hoje, dependendo do lugar da exposição, causaria polêmica.

Soropositivo desde 1986, Robert Mappelthorpe morreu em decorrência da AIDS em 1989. Tinha 42 anos. O que ele fez, as tentativas de chegar à perfeição, a audácia de tratar temas incômodos, tudo isso está contido nessa exposição magnífica do Guggenheim.

     
.video da primeira parte da exposição que terminou no dia 10 de Julho.
Museu Guggenheim: 1.071 Fifth Avenue, Nova York.
Fontes:  Artsy (artsy.net), Vogue (vogue.globo.com), Revista Zum (revistazum.com.br)
 

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Por último deixamos o trailler do filme feito sobre a vida do autor: