2 de agosto de 2019

Para mim, o que é o Instagram?

   

Falando um dia com Renata, contei a ela que, além do meu Instagram “oficial”, também tinha um outro secreto

Postei minha primeira foto no Instagram oficial, no dia 13 de Fevereiro de 2013, 6 anos atrás.

Comecei postando fotos mais anedóticas porém, revisando meu histórico agora observo que, retratos íntimos e natureza morta, representam boa parte do material. A partir do primeiro ano vejo que as fotos seguem a linha do que faço até hoje.

 

Revisando esses 6 anos de imagens, me dou conta de que a principio, é um diário muito fiel e contínuo da minha vida. Sempre mantive uma frequência no meu ritmo de postagens. Porém também vejo que não é um diário descritivo do que faço, dos lugares que frequento, e sim um diário emocional.

Fotografo o íntimo, os detalhes, resquícios de ações. Compartilho a minha visão sobre a vida, o quanto os espaços cotidianos me fazem sentido, as relações pessoais, os vínculos estreitos, as curtas distancias.

 

Todas essas imagens me transportam de uma maneira muito direta e forte às sensações que vivi em suas respectivas épocas.

Gostaria de saber até onde essas imagens tocam as pessoas que me seguem. Isso é algo que sempre me preocupa em meus projetos fotográficos. Vejo que minha forma de fotografar é intuitiva, com um impulso absolutamente emocional, por isso logo penso: ‘será que mais alguém terá interesse, além de mim mesma?’.

Na minha vida eu sorrio e me mostro como alguém forte e segura de si. Não gosto de me mostrar vulnerável, triste, dependente, emotiva. Sinto que não é legal.

Instagram é uma janela que me permite mostrar essa ‘escuridão’, meu eu não divertido, menos iluminado. É uma ferramenta que me ajudou a dividir essa grande parte de mim mesma, que geralmente levo guardada no meu cotidiano. Mais que compartilhar, principalmente me ajudou e serviu como lugar de expressão. Para contar, para revelar. Para deixar ir embora.

Então por que preciso de um Instagram secreto, se o que tenho já me permite mostrar o meu lado “obscuro”?

Tenho entendido sobre mim mesma que sou muito dependente da opinião alheia, e que existem certas imagens que no final, não me atrevo a mostrá-las. Vejo que até essa parte mais sincera e emocional que mostro no meu Instagram, acaba tendo um caráter próprio e definido. Como se tivesse construído uma personagem da qual agora sou escrava das expectativas, que foram construídas por mim mesma. O que penso que as pessoas esperam de mim.

Com o tempo fui acumulando seguidorxs, gente que deixa comentários e que gosta do meu trabalho. Também me seguem familiares, amigxs, alumnxs… É como se, de alguma maneira, eu quisesse estar bem com todos e também me proteger. Entendo que criei uma zona de conforto, uma obscuridade bonita, limitada, restringida, auto-censurada.

 

 

E quando entendo isso abro outro Instagram. Em alguns dias completará um ano de vida. Não tenho seguidorxs. Nada me condiciona. Posto tudo o que quero e me interessa. Sem filtros, sem pensar. Reconheço que tenho uma parte ainda mais reprimida, ainda menos aceita. Não digo que seja feia. É mais autentica, mais crua, menos decorada, menos elegante, menos controlada. Mais verdadeira.

Não que o “oficial” não seja verdadeiro. Me sinto totalmente identificada com tudo que posto ali, porém é como se continuasse a minha compulsão por mostrar-me “perfeita”, mesmo dentro da minha obscuridade. E nesse espaço novo e livre de olhares, me permito ser mais eu mesma.

 

 

Não sei se isso é um fenómeno ou não. Mas sei que existem mais pessoas que fazem o mesmo por motivos similares. Por uma exigência auto-imposta que sofrem, em suas contas oficiais.

Me parece uma loucura. E como dar um nó sobre outro nó. Aquilo que começou sendo uma janela onde podia expressar uma parte minha que não tinha outro lugar de fuga, acaba se tornando em um espaço mais de poses e posturas.

Quão importante é o olhar dos outrxs. Na vida. E na Internet.

 

.textos e imagens ©ana benavent (fotógrafa elPulpo)